O leitor, porventura, ao tomar em mãos a presente obra, pode atestar certa desconexão entre o título que a nomeia e o título das questões que a compõem. Em nossos dias, por diversas razões, nos distanciamos cada vez mais do sistema educacional - quer dizer, do próprio conceito de educação - exercido no período escolástico. Devido à constante expansão dos fenômenos naturais, sociais, econômicos, etc., há, também, um aumento na ramificação e especificação das ciências, gerando uma certa ruptura que, à primeira vista, parece crescer em progressão geométrica, de modo tal que o uso de argumentos tomados da filosofia natural para fundamentar um certo conteúdo tratado na Sacra Teologia ocasiona, a priori, um estranhamento ao cidadão médio de nossa época. Diz-nos Santo Tomás de Aquino na Suma contra os Gentios (1, c. III): “Contudo, partindo das coisas sensíveis, o nosso intelecto é levado ao conhecimento divino de modo a conhecer que Deus é, e ao conhecimento de outras realidades que possam ser atribuídas ao primeiro princípio”. Assim, sendo Deus maxime inteligível, não o é para nós (quoad nos); daí a necessidade de se proceder daquilo que é mais inteligível para nosso intelecto (física ou ciência natural) ao mais inteligível simpliciter (metafísica ou ciência divina). Na presente obra, o Santo Doutor, valendo-se da pena de Boécio em seu tratado De Trinitate, expõe e comenta a doutrina central da Fé Católica, a saber, a Santíssima Trindade, sem deixar, não obstante, de fundamentar tal doutrina em outros ramos da sabedoria. O Angélico procede com uma exposição sistemática do texto do filósofo romano, sendo esta seguida de questões disputadas tratando com minúcia dos principais aspectos delimitados pelo autor. Primeiro, considera o modo humano de apreender e alcançar um conhecimento da verdade, de Deus e da Trindade (Questão I), seguido do modo de manifestar tal conhecimento (Questão II). Segundo, trata da fé, sua relação com o gênero humano e da unidade sem qualquer diferença entre as Três Pessoas divinas (Questão III). Além de explorar as causas da pluralidade, a saber, alteridade, variedade de acidentes e de lugar (Questão IV). Ao fim, concentra-se na ciência especulativa em geral: sua divisão (Questão V) e seus métodos (Questão VI). Em suma, trata-se de uma obra basilar que traz a lume a grandeza do Aquinate na elucidação do inefável mistério da Fé Católica, alicerçando-a em aspectos da gnosiologia e da filosofia natural, amparando-se na letra de um dos grandíssimos pensadores da história do Ocidente.