DISCOURS DE MÉTAPHYSIQUE, XI

Gottfried Wilhelm Leibniz

Sei que avanço um grande paradoxo ao pretender, de certa forma, reabilitar a antiga filosofia e recordar ‘postliminio’ (por direito de retorno) as formas substanciais quase banidas, mas talvez não me condenem quando souberem que meditei bastante sobre a filosofia moderna, que dediquei muito tempo às experiências da física e às demonstrações da geometria, que estive por muito tempo persuadido da vaidade desses entes e que fui, enfim, obrigado a retomar, a despeito de mim mesmo, e como que à força, após ter feito eu mesmo investigações que me fizeram reconhecer que os nossos modernos não são justos o bastante com Santo Tomás e outros grandes homens daquele tempo, e que há nos sentimentos dos filósofos e teólogos escolásticos bem mais solidez do que se imagina, desde que deles nos sirvamos oportunamente e em seu lugar.

Estou mesmo persuadido de que, se algum espírito exato e meditativo se desse ao trabalho de esclarecer e digerir seu pensamento à maneira dos geômetras analíticos, encontraria neles um tesouro de inúmeras verdades, muito importantes e absolutamente demonstrativas.